RADIO SIM FM - NO SEU RITIMO

Deficiente e vítima de violência doméstica, artista relata história de superação através da pintura: ‘Curou minha depressão’

Maria Lúcia Ferreira, de 62 anos, possui várias telas distribuídas pelos estabelecimentos de Sorocaba (SP). Por ser deficiente de uma mão, suas pinturas possuem uma técnica especial desenvolvida por ela. Uma das obras de Maria Lúcia, que pratica a arte plástica há 8 anos

Arquivo pessoal

Onde técnica se mistura com sentimentos e imperfeições viram detalhes, a arte impressiona pelo seu apelo visual. Mas por trás das telas pintadas pela artista Maria Lúcia Ferreira, de 62 anos, há uma história que vai muito além de lindos cenários e composições coloridas.

Natural de Capão Bonito (SP) e moradora de Sorocaba (SP) há aproximadamente 30 anos, a paixão de Maria Lúcia pela arte não é recente. Ao g1, a artista contou que começou a praticar pintura há 8 anos, após um acidente que reduziu a mobilidade de um de seus dedos.

“Perdi o movimento da mão temporariamente quando quebrei um copo enquanto lavava a louça. Meu tendão foi rompido, e precisou ser religado. Fiquei 9 meses sem conseguir fazer nada com essa parte do corpo. Hoje ainda tenho dificuldade. Precisei me adaptar e me redescobrir para poder seguir um sonho”, conta.

Maria Lúcia tem 62 anos e é moradora de Sorocaba (SP)

Arquivo pessoal

Maria relembra que o processo de adaptação e aceitação foi um período de muita batalha. “Ao descobrir que poderia ficar deficiente para o resto da vida, chorei bastante. (...) Cheguei a ser diagnosticada com depressão, tinha perdido o sentido na vida", conta.

As dificuldades, contudo, motivaram Maria a se dedicar às artes plásticas.

"Falei: ‘Ou você chora e aceita ou você enfrenta.’ Daí pra frente, passei a desenvolver a minha mão e focar na arte plástica. Elas curaram minha depressão”, relata.

Maria Lúcia desenvolveu técnica especial para poder seguir o seu sonho

Arquivo pessoal

Hoje, Maria Lúcia possui diversas obras espalhadas por estabelecimentos de Sorocaba. Com uma técnica que desenvolveu, suas telas representam paisagens e animais, sempre realistas. Mas, para ela, a mensagem principal é transparecer alegria para a tela.

"Só consigo usar dois dedos de apoio. Preciso muito do apoio do braço, às vezes preciso segurar o pincel com a minha outra mão para dar um toque mais delicado. Mas minhas telas não saem de um dia para o outro. Não faço pinturas em dias tristes, o pincel sente, não sai legal. Gosto de depositar boas emoções no cavalete”, diz.

Traumas

Vítima de violência doméstica há quase 40 anos, Maria conta que casou-se ainda jovem, na esperança de construir um futuro. A realidade, contudo, foi muito diferente. “Meu sonho, na época, era poder estudar. Meu marido não permitia, me batia muito. Dizia que eu deveria me prostituir para me sustentar, que eu não era capaz de fazer nada".

Os traumas que a atormentaram por anos foram curados ao encontrar apoio na arte plástica.

"Não existia Lei Maria da Penha, então sofri muito sozinha até tomar coragem de me divorciar. Mesmo muito tempo depois, a arte é um grande apoio para mim. Ela me faz sair dos meus problemas”, relata.

Para Maria Lúcia, o importante é transparecer alegria em suas telas

Arquivo pessoal

O grande sonho de Maria Lúcia é realizar uma exposição com suas imagens. Para ela, há uma mensagem para ser mostrada ao público.

“Me sinto uma criança quando estou pintando. Derramo tinta, sujo meu cabelo. E tudo é motivo de risada. Faço tudo com muito amor. Quero mostrar minhas telas para falar para as pessoas que é possível seguir um sonho, que é possível passar por períodos nebulosos. Minhas obras tem emoção, tem história. Quero encorajar outras pessoas a lutar pelo que querem”, finaliza.

*Colaborou sob supervisão de Matheus Arruda

Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí

VÍDEOS: Assista as reportagens da TV TEM

NOTÍCIAS MAIS LIDAS