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Depois dos 60: Veja relatos de mulheres que dizem ter começado a aproveitar mais a vida

Geriatras explicam como se dá processo de envelhecimento e porque ele não deve ser temido. Ao g1, idosas do Distrito Federal contam histórias inspiradoras e mostram que nunca é tarde para cuidar de si e sonhar alto. Linda Mendes, de 63 anos, em viagem a Portugal

Arquivo pessoal

"Minha cabeça ferve com uma porção de ideias do que fazer com todo o tempo livre que tenho. Hoje posso escolher como usar meu tempo."

O relato, cheio de energia, é da servidora pública aposentada Linda Mendes, de 63 anos, moradora do Distrito Federal. A vida depois dos 60, para algumas mulheres, pode assustar, mas, para outras, como Linda, o novo ciclo representa ainda mais possibilidades.

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Também é o caso de Marise Lima, de 65 anos, Margô Vieira, de 70, e Suely Barros, de 64. Ao g1, elas relatam que começaram a aproveitar a vida quando a terceira idade chegou. Cada uma com sua experiência (veja mais abaixo).

Segundo o geriatra Einstein Camargos, do Hospital Universitário de Brasília (HUB), com o envelhecimento, há uma mudança natural na fisiologia do corpo e da mente, sobretudo na perda muscular e na capacidade de lidar com demandas fisiológicas novas. Por outro lado, na maioria das pessoas, há um processo de resiliência mental, o que as torna mais adaptadas às demandas do envelhecimento e do dia a dia.

Ele também explica que é um mito a ideia de que as pessoas perdem a disposição na terceira idade. "Temos idosos de 80 anos em plena atividade física e mental, apesar de serem muito idosos. E temos pessoas de 50 anos com pouca ou mesmo nenhuma disposição para a vida", diz o geriatra.

"O que diferencia o envelhecimento de uma pessoa para outra é muito mais a sua história que a sua biologia. [...] O que determina a indisposição de realizar certas atividades são doenças relacionadas ao envelhecimento, como as artroses e doenças do coração, por exemplo", pontua Camargos.

Liberdade

Linda Mendes, de 63 anos, em algumas de suas muitas viagens pelo mundo

Ler, assistir a filmes e séries, praticar esportes e ir ao teatro são só algumas das atividades que fazem parte da rotina de Linda, além de sair com amigos e amigas.

"Quando ninguém está livre, vou sozinha, sem qualquer problema. Mas meu 'esporte' predileto é viajar", diz Linda.

A aposentada conta que o mais importante para ela é ter a liberdade para fazer o que quiser e organizar o próprio tempo, sem precisar cumprir compromissos profissionais. Seu principal compromisso é com ela mesma, cuidando de sua saúde e realizando sonhos (veja fotos acima).

"A filha já está adulta, casada e independente. Além disso, passei a ter direito ao cartão de idoso [risos] e faço questão de desfrutar deste direito adquirido. Tudo o que faço hoje é aproveitar a vida, realizar sonhos e seguir sendo muito feliz", conta a aposentada.

Autoestima e reencontro

Margô Vieira, 70, à esquerda, e Marise Lima, 65, à direita

Divulgação/Vagner Carvalho/Sesc

As amigas Margô, de 70 anos, e Marise, de 65, participaram juntas de um curso de modelo e manequim profissional voltado para mulheres acima dos 60 anos. Elas são duas das 20 idosas selecionadas para o projeto do Sesc-DF, em Ceilândia.

Foram 5 meses de aulas e trocas de experiências. Para elas, o momento perfeito para ingressarem em uma nova aventura. "É uma transformação muito grande em nossas vidas, tanto emocional, quanto de aparência. Inclusive eu venho de um momento difícil uma depressão e para mim foi um remédio."

"Me sinto confiante, mais eu", diz Margô (veja vídeo abaixo).

"Eu sou uma órfã, criada em um orfanato no interior do Maranhão. Depois, vim para Brasília trabalhar. Hoje eu faço teatro, coral, artesanato, e agora o curso para modelos. Tudo isso é o que me satisfaz, preenche o meu dia a dia. Eu estou vivendo o que eu não vivi na mocidade", conta a aposentada.

Margô Vieira, de 70 anos, conta como foi participar de curso para ser modelo

Marise, que trabalha como eletricista, conta que vive "ligada nos 220". Sempre cheia de energia e atividades para fazer, o curso de modelo, para ela, foi um reencontro consigo mesma.

"Eu existo, eu sou importante, eu faço parte dessa sociedade. Deixo um legado aqui e ainda dá tempo de eu deixar mais. [...] É a melhor idade que nós estamos vivendo, porque nós temos tudo ao nosso favor, temos toda a liberdade do mundo, não temos que provar nada para ninguém", diz Marise.

Energia

Suely Barros, de 64 anos, praticando crossfit

Arquivo pessoal

O dia de Suely começa às 6h e, normalmente, só termina à meia-noite. Aos 64 anos, ela faz caminhadas todos os dias, cuida do neto, da casa, faz aulas de inglês e é atleta de crossfit.

"Eu comecei a fazer exercício físico com 58 anos de idade. Hoje eu estou buscando realizar o que não fiz quando era jovem, buscar conhecimento. Comecei o inglês, que eu sempre tive vontade de aprender e nunca tinha tido essa oportunidade. [...] Eu sempre fui pai e mãe, tomei conta de tudo, nunca esperei por ninguém", conta Suely.

Ela diz que se sente cheia de energia. Além disso, ressalta que enxerga que a felicidade está dentro de si mesma, e não nos outros ou em coisas materiais.

Envelhecer bem

A médica e professora da Universidade de Brasília (UnB) Maria Alice Toledo, especialista em geriatria, explica que o processo de envelhecimento tem três pilares:

Capacidade funcional: é determinada pela capacidade intrínseca de um indivíduo, ou seja, pela combinação de capacidade física e mental (inclui a genética);

Ambiente em que se vive: é compreendido em um sentido mais amplo, incluindo ambientes físicos, sociais e políticos;

Interações entre capacidade funcional e ambiente: é esta interação que vai determinar um envelhecimento saudável ou não. Muitas coisas dependem de opções das próprias pessoas - como beber, fumar, fazer ou não atividade física - do ambiente, e condições socioeconômicas (ter acesso ao sistema de saúde e educação, por exemplo).

"O envelhecer bem, chamado envelhecimento saudável, deve ser conquistado. Conquistado no sentido de se cuidar desde jovem, com uma alimentação sadia, prática de atividade física, bons hábitos e fazer exames periódicos para controlar fatores de risco, como pressão alta ou diabetes", diz a médica.

Maria Alice Toledo explica ainda que os cuidados com a saúde mental não devem ser deixados de lado. "Muitas vezes a pessoa está deprimida, mas não procura o psiquiatra por preconceito."

"Lembrar que depressão é uma doença como outra qualquer, e tem tratamento. É como cuidar de um jardim. Você não espera um jardim lindo e florido se você não cuidou, vira um mato ou só fica a terra árida. Envelhecer bem é um processo ativo", diz a geriatra.

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